Sábado,
noite chuvosa,
cidade cinza
nada amorosa.
Ao som da
gaita do velho blues,
o sopro da
morte falou-lhe sem luz.
Dissecou o
caminho do fim,
na última
nota do solo
beijou-lhe a
face
diatônico
jasmim.
No espanto
da notícia,
desolado
encanto.
No
contraponto do neon,
o quase
pranto.
O copo da
cerveja escura
tragado pela
metade,
saborosa dádiva
abade
restou o
viscoso gosto da amargura
Trilhou a
vida,
em segundos
reviveu as dores,
em choque
não havida despedida,
recordou de
todos seu amores.
Pensou nos filhos,
na beleza de
seus sorrisos.
Lembrou dos
pais, irmãos
e de vários
amigos.
Quando
percebeu, ela observava.
Cachos
negros diamante.
Olhar amável
cintilante.
Respostas a
sua dor não entrava.
E quando
menos esperava,
ela disse: -
Escreve alguma coisa pra mim.
Espantado,
retrucou: - Agora?
Ela sorriu e
respondeu: - Sim.
Papel e
caneta azul, calado escreveu:
"Há uma
noite que termina em nós.
Há uma vida
feito desejo algoz."
Mais um gole
de cerveja e disse adeus
Na mente
recobrou a morte
Ela disse
quarenta e seis
Sem dor,
amor ou sorte.
A despedida
da vida, talvez.
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