quinta-feira, 18 de abril de 2013

Quarenta e seis. Sem dor, amor ou sorte.



Sábado, noite chuvosa,
cidade cinza nada amorosa.
Ao som da gaita do velho blues,
o sopro da morte falou-lhe sem luz.

Dissecou o caminho do fim,
na última nota do solo
beijou-lhe a face
diatônico jasmim.

No espanto da notícia,
desolado encanto.
No contraponto do neon,
o quase pranto.

O copo da cerveja escura
tragado pela metade,
saborosa dádiva abade
restou o viscoso gosto da amargura

Trilhou a vida,
em segundos reviveu as dores,
em choque não havida despedida,
recordou de todos seu amores.

Pensou nos filhos,
na beleza de seus sorrisos.
Lembrou dos pais, irmãos
e de vários amigos.

Quando percebeu, ela observava.
Cachos negros diamante.
Olhar amável cintilante.
Respostas a sua dor não entrava.

E quando menos esperava,
ela disse: - Escreve alguma coisa pra mim.
Espantado, retrucou: - Agora?
Ela sorriu e respondeu: - Sim.

Papel e caneta azul, calado escreveu:
"Há uma noite que termina em nós.
Há uma vida feito desejo algoz."
Mais um gole de cerveja e disse adeus

Na mente recobrou a morte
Ela disse quarenta e seis
Sem dor, amor ou sorte.
A despedida da vida, talvez.

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